05 junho, 2012

Texto para leitura - A velhinha Maluquete

A VELHINHA MALUQUETE

(Ana Maria Machado)

Era uma vez uma velhinha que morava na roça, e tinha muita vontade de viajar.
Como ela não tinha dinheiro para ir de avião e não tinha caminhão, mas tinha muita imaginação, resolveu fazer um balão.
Passou dias tecendo, num tear.
Passou dias costurando pano.
Passou dias fazendo um cesto grande.
Passou dias preparando lingüiça, conserva, geléia e biscoito para levar de merenda.
Depois passou horas fazendo uma fogueira, para ter muito ar quente. E encheu o balão.
Na hora de sair, o ratinho que morava ali na fazenda viu aquilo tudo e ficou de olho na merenda.
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
O gato, por sua vez, ficou de olho no rato. E logo já eram três:
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
Correndo do alto do morro, veio também o cachorro:
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
Aos pinotes, em disparada, veio a cabra, toda assanhada:
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
No galope, no embalo, chegou depressa o cavalo:
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
E devagarzinho, babando, pediu o boi, ruminando:
- Posso ir junto?
- Poder, pode. Mas trate de se comportar.
- Está bem. Eu prometo.
Já estava todo mundo apertado no balão, que ia lotado.
Para completar a brincadeira, apareceu a mosca-varejeira. Com medo de ser espantada, nem pediu. Ficou por perto, disfarçou e se meteu no meio quando o balão subiu.
Não tinham ido muito distante e o rato resolveu dar uma provadinha na merenda. Logo, naquele instante, quando ia bancar o esperto, a mosca voou bem perto, e ele a espantou:
- Sai daí. Você nem ao menos foi convidada. Vá amolar o boi.
E como ela gostava de chatear, bem que foi.
Tanto amolou, tanto chateou, que o boi resolveu dar uma chifrada na tal da mosca-varejeira.
Mas ela era muito pequena e ele errou. Daí começou a confusão inteira, porque acertou foi no cavalo, que se assustou e deu um coice na cabra, que se assustou e deu uma marrada no cachorro, que se assustou e deu uma mordida no gato, que se assustou e deu uma patada no rato, que se assustou e começou a roer tudo no balão.
A velha bem que gritou:
- Vocês prometeram se comportar!
Mas não adiantou.
Naquela confusão, o balão foi caindo, com as cordas partindo, descendo devagar até no chão pousar.
Mas daí a alguns dias foram todos viajar, num balão bem caprichado, com mais espaço e cada um no seu lugar. Os bichos é que fizeram, enquanto a velha ficava de papo pro ar.
Sabe por quê? Por causa do que ela prometeu.
E a promessa foi essa:
- Se dentro de alguns dias eu não tiver um balão, vou é vender todos vocês e viajar de avião.
E eles trataram de trabalhar, porque ela é gente que cumpre o que promete. Além do mais, eles queriam ficar com ela. Afinal, onde é que iam arranjar outra dona tão maluquete?

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